
@@Taken by Rose
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"Silêncio.
Como se o momento em que alguém se preparasse para dizer uma palavra ficasse suspenso.Instantes a acumularem-se sobre esse tempo cada vez mais longo.A suspeita de que toda a eternidade existe dentro desse momento parado. E, se alguém deixasse cair uma pedra na profundidade desse silêncio, poderia esperar que passassem séculos, mas nunca iria ouvi-la tocar no chão e apenas ficaria livre no momento em que acreditasse que a pedra se tinha desfeito em tempo e em silêncio.
E silêncio.Nem o movimento das ervas sob uma aragem.Nem, por exemplo, um olhar pela janela pousado na distância. Apenas uma cor opaca e constante.As formas nítidas e paradas de todos os objectoso.Finalmente nítidas no momento em que se tornam definitivas e inúteis .A solidão é feita de silêncio.As casas tinham tinham sido feitas de silêncio enão sabíamos.Alguém contou todos os segredos.Num momento sem palavras,alguém contou todos os segredos e ficou apenas o silêncio.
[...]
E silêncio. Como se os homens ou a terra fosem capazes de criar uma música que corresse dentro do silêncio, como vento invisível dentro do ar invisível.Nenhuma palavra e a ausência de cada palavra esculpida com silêncio.O significado daquilo que ninguém sabe dizer.Silêncio atirado de encontro às palavras .A distância inconcebível e insuportável entre nós e todos os outros.Pedras.Terra.Lama.E silêncio. Silêncio.Silêncio.
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José Luís Peixoto in { suplemento do D.N. }